Por anos sendo a principal empresa de streaming de filmes e séries no mundo, a Netflix pode estar perdendo o seu reinado aos poucos. Após perder mais de 1 milhão de assinantes entre abril e julho de 2022, a Netflix tem lutado para manter o seu lugar no mercado, principalmente porque vem enfrentando uma diminuição no número de assinantes ao longo dos anos. Além dos assinantes, a gigante também perdeu acionistas diante da queda de suas ações, o que levou a diversas demissões na empresa.
No entanto, as notícias não foram tão ruins assim: na realidade, a Netflix esperava perder 2 milhões de assinantes durante o período de abril a julho – e, de fato, perdeu apenas metade do que era esperado, estancando um pouco o sangramento da sua baixa. As expectativas já foram previamente definidas como baixas, e a empresa conseguiu se sobressair diante do cenário negativo.
Com o lançamento da nova temporada de “Stranger Things”, que é praticamente o carro-chefe da empresa atualmente, as ações da Netflix subiram um pouco mais de 7%, após o pregão da perda de 970 mil assinantes. A notícia foi um alívio para os acionistas, que esperavam uma baixa gigante em suas ações. De acordo com o cofundador e executivo-chefe Reed Hastings, “é duro perder 1 milhão e chamar isso de sucesso. (…) Estamos falando em perder 1 milhão, em vez de 2 milhões. Nosso entusiasmo é temperado pelos resultados menos ruins”.
O que este artigo aborda:
- Crise econômica e alta concorrência afetam número de assinantes
- Aumento dos preços foi decisão arriscada
- Fidelidade dos clientes
Crise econômica e alta concorrência afetam número de assinantes
Um dos grandes motivos que está fazendo a Netflix perder faturamento é, sem dúvidas, a crise econômica global que se instaurou, principalmente depois da pandemia de COVID-19. A inflação nos Estados Unidos está atingindo picos que havia atingido há 40 anos, e a recessão se aproxima cada vez mais.
O cenário traz uma infeliz ironia, pois a consolidação da Netflix como gigante global se deu, justamente, no período pandêmico. Com a impossibilidade de sair de casa, as pessoas assinaram o serviço de streaming para distração, e a Netflix foi muito inteligente ao lançar as séries The Crown e Round 6, que se tornaram febres mundiais, atraindo novos assinantes e acionistas para a plataforma. Porém, conforme a pandemia de COVID-19 vai sendo superada, a plataforma está enfrentando, também, uma dificuldade para atrair e manter novos assinantes.
Hoje, o consumidor precisa escolher as suas prioridades de gastos, e isso é o que está fazendo com que as pessoas prefiram cancelar a assinatura. Ainda que seja uma alternativa mais barata em relação aos serviços de televisão a cabo, a Netflix é, sem dúvidas, a opção mais cara entre os serviços de streaming disponíveis no mercado hoje. Paolo Pescatore, analista da PP Foresight, diz que “ninguém está imune” aos impactos dos custos de vida atualmente.
A concorrência é outro ponto-chave que está fazendo a Netflix perder o seu posto de principal plataforma de streaming. Cada vez mais se vê plataformas sendo lançadas, ainda que a crise econômica esteja em níveis absurdos: é uma ação cara e corajosa para conseguir tomar o lugar da Netflix no mercado.
Rich Greenfield, da Lightshed, afirma que a “concorrência chegou a níveis meio absurdos”, e todos os dias surgem novos serviços de streaming com opções de pagamento mais acessíveis em relação à Netflix. O fato de o catálogo se tornar mais amplo também é um ponto positivo: a Netflix, nos últimos anos, passou a focar os esforços em produzir os próprios conteúdos, o que limita as opções dos assinantes.
Aumento dos preços foi decisão arriscada
Um ponto negativo e que não foi tão benéfico para a empresa foi anunciar o aumento dos valores em meio ao enfrentamento da pandemia. Nos Estados Unidos, o plano básico para dois aparelhos custa cerca de US$ 15 (ou R$ 83, na conversão atual do dólar). Em janeiro de 2022, o valor era de US$ 14, e, em 2019, US$ 11. No Brasil, o plano padrão está em torno de R$ 39,90.
Outras plataformas de streaming, que estão crescendo e chegando a patamares parecidos ao da Netflix, oferecem uma ampla variedade de títulos por valores a partir de R$ 15, aproximadamente. Nisso, a concorrência está sabendo competir muito bem, e é por isso que o anúncio do aumento do valor das assinaturas foi uma decisão arriscada da Netflix.
Fidelidade dos clientes
Apesar do cenário negativo, a Netflix pretende se reerguer. Um dos pontos mais positivos que mantém os seus assinantes é, sem dúvidas, a preocupação com o usuário da plataforma: a possibilidade de o aplicativo ser acessível em diversos dispositivos, como celulares, computadores e tablets.
Ainda há a possibilidade de escolher tamanho, cor e fonte da legenda, além de uma fácil barra de navegação, e a opção de fornecer uma série para o assinante conhecer, de acordo com os algoritmos, também é bem interessante. Outras plataformas de streaming ainda pecam bastante no quesito experiência do usuário, o que pode afastar assinantes em longo prazo.
Outro ponto importante é que a Netflix quer apostar em conteúdos fortes e fiéis ao que as pessoas querem assistir. A adoção do público mais velho, por exemplo, que está chegando na plataforma agora, se torna um desafio grande, mas que pode ser superado. O terceiro semestre para a empresa prevê novos assinantes (a expectativa é que seja de 1,8 milhão de assinantes, recuperando o que foi perdido no primeiro trimestre).
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